LEMBRETE

sexta-feira, 4 de abril de 2008

REFLETINDO SOBRE RELIGIÕES IX.

REFLEXÕES ACERCA DE RELIGIÕES
Escrito em 1899



Por milhares de anos homens e mulheres tem tentado reformar o mundo. Criaram deuses e demônios, paraísos e infernos; escreveram livros sagrados, realizaram milagres, construíram catedrais e calabouços; coroaram e destronaram reis e rainhas; maltrataram e aprisionaram, torturaram e queimaram pessoas vivas, pregaram e rezaram; valeram-se de promessa e ameaças, adularam e persuadiram; apregoaram e ensinaram; de diversos modos, empenharam-se em tornar as pessoas honestas, temperadas, laboriosas e virtuosas; ao seu alcance para tornar a humanidade melhor e mais feliz, e ainda assim falharam. Por que falharam?

Ignorância, pobreza e vício estão povoando o mundo. A sarjeta transformou-se num bercário. Pessoas incapazes de sustentarem a si próprias enchem os lares, casebres e choupanas de crianças, ficando à "merce" do senhor, da sorte e da caridade. Não são suficientemente inteligentes para pensar sobre as consequências ou sentir responsabilidade. Ao mesmo tempo, não querem crianças, pois são uma maldição, para os pais e para sí próprias. O bebê não é bem vindo porque, na verdade, constitui um fardo. Essas crianças inconvenientes abarrotam prisões, asilos, creches, hospitais, e também lotam os prostíbulos. Poucas se salvam pelo acaso ou pela caridade, mas a grande maioria constitui um malogro. Elas se tornam viciosas, ferozes. Vivem através da fraude e da violência, e posteriormente transmitem seus vícios aos seus filhos.

Contra essa inundação de vícios, as forças reformistas são inúteis, e a própria caridade se converte em uma forma inconsciente de promover o crime. O insucesso parece ser a "marca registrada" da natureza. Por que? Porque a natureza não possui um projeto e tão pouco inteligência. A natureza produz sem objetivo, sustenta sem intenção e destrói sem pensamento. O homem possui uma pequena inteligência, e deveria usá-la. O intelecto é a única coisa capaz de elevar a humanidade.

A verdadeira questão é esta: podemos evitar que os ignorantes, os pobres e os viciados continuem abarrotando o mundo com seus filhos? Podemos evitar que esse rio de ignorância e vício deságue no mar da civilização? Precisamos ser as eternas vítimas de uma paixão ignorante? O mundo pode ser civilizado a um ponto em que as consequências serão levadas em consideração por todos?

Por que homens e mulheres concebem filhos dos quais não podem cuidar, que são um fardo e uma maldição? Por quê? Porque possuem mais paixão que inteligência, mais paixão do que consciência, mais paixão que razão?