LEMBRETE

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

RELIGIÃO, CHÁ EMAGRECEDOR E A LEI 11.645/2008

Luiz Carlos Varella de Oliveira.
Especialista em Planejamento Educacional



Este texto começou a materializar-se depois de uma Encontro Formativo realizado pela Superintendência de Educação Básica e Coordenado pela Equipe da Diversidade Cultural desse órgão estadual. Esse evento aconteceu no município de Poconé, Mato Grosso nos meses de outubro e novembro de 2007. Aproximadamente 200 professores permaneceram por 10 dias estudando, refletindo e elaborando documentos para que as pessoas aceitassem com menos resistência as questões discriminatórias que pairam na sociedade mato-grossense.

Após várias falas, palestras, oficinas e debates sobre a temática foram apontadas algumas possibilidades, que poderiam alavancar um trabalho mais consistente e adequado nas escolas mato-grossenses. Evidentemente, cada uma delas apresentam especificidades que caberá ao educador detectar qual maneira será a mais adequada para trabalhar a temática.

Quando discutimos sobre a Diversidade Cultural, as questões de danças, culinária, esportes, vestimentas, são aceitas normalmente e até elogiadas. O problema fica agudo quando falamos sobre os segmentos religiosos africanos. Essas contrariedades acorrem, porque as informações que possuímos acerca dessa atividade cultural humana é quase invisível, e essa especificidade é a causa das contrariedades existentes no meio social.

Este texto não tem pretensão de solucionar os problemas cognitivos das pessoas mas sim, instigá-las para reflexões afim de que tenham a possibilidade de compreenderem seus semelhantes (companheiros de profissão: professores (as), alunos (as) e pais), de uma maneira científica e pedagógica. Dessa maneira, o diferente e o inusitado será entendido com mais profundidade evitando assim, atritos e dissabores no dia a dia dos seres humanos.


Para que comecemos a compreender essas questões precisamos responder o seguinte questionamento. O que é Religião?

Religião deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.

Refletindo um pouco mais nessa direção podemos afirmar que não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são dessa maneira, um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.

A grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como precursora, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história humana na terra estiveram vinculados ao poder político e social.

Atualmente, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.

Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.

Dentre as várias religiões existentes na atualidade, todas produtos culturais da criatividade humana, os estudiosos e pesquisadores dividiram-na em quatro grandes grupos a saber: Panteístas, Politeístas, Monoteístas e Ateístas e, recentemente, Neo-panteístas. Cada uma apresenta características específicas. Porém, em um determinado momento na história de sua elaboração suas orientações ficam entrelaçadas, ainda que por pouco tempo.

Como exemplo do Panteísmo podemos citar dentre muitos, os seguintes segmentos, qual sejam: religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas...

Entre os Politeístas destacam-se Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia.

Os Monoteístas estão representados pelo Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo.

Enquanto que os Ateístas são representados pelos Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo e Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)

Como as tendências religiosas estão sempre em movimento, pois são produtos culturais, um outro segmento religioso merece destaques. São os Neo-Panteístas representados pelo Espiritismo Kardecista, Racionalismo Cristão, Neo-Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas".

Para as nossas reflexões sobre “Religião, Chá Emagrecedor e a Lei 11.645/08”, iremos salientar os Panteístas por ser uma das mais antigas da humanidade.


Ela remontando a pré-história onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania. O seu embasamento literário é próprio de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por tradição oral. Com essa característica fica fácil entendermos muitas vezes a mesma identidade “religiosa” apresentar-se diferenciada de uma localidade para outra.

A Mitologia para os panteístas assim é entendida: Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é comum também o culto aos antepassados. (dias especiais para recordá-los, oferendas...) Procura-se manter a harmonia com a natureza, e o mundo comumente é tido como eterno. Para eles os símbolos apresentam-se como totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.

Seus rituais são geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas1, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre.

Para os Panteístas acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais...

Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização, mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.

A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o Feminino e Masculino universal.

É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos.

O ser humano, enquanto produtor de cultura para seu conforto, sempre observou a natureza procurando compreender o que de mais útil ela poderia fornecer-lhe para a manutenção de vida. Essa observação iniciou-se com os animais. Isto é, que tipo de alimentos eles utilizavam. Folhas? Cascas? Castanhas? Frutos? Enfim, tudo aquilo que de uma maneira ou de outra serviria para alimentação.

Com essas experiências alguns acidentes aconteceram. O ser humano ao utilizar um determinado fruto para a alimentação percebeu que ele provocou um distúrbio em seu organismo, um mal estar, uma disfunção intestinal. Essa deficiência precisava ser sanada. Ao mascar uma folha ou macerá-la com água e após tomar o sumo dela extraída em forma de chá frio, percebeu que o seu problema foi minimizado. Logo essas práticas começaram a ser divulgadas e a lista de ervas benéficas à saúde somente aumentou. Pois, as descobertas feitas eram realizadas e difundidas de aldeia em aldeia a tal ponto, de ter uma pessoa responsável para a aplicação dessa atividade sempre quando alguém era acometido de algum mal.

Logo, a compreensão dos seres humanos e os conhecimentos advindos dessa prática, bem como o tratamento dos males que afetassem fisicamente as pessoas, eram combatidos com essas práticas “miraculosas” por intermédio das plantas.

A descoberta do fogo, outro elemento veio juntar-se a esses já descobertos e postos em práticas. Com o aquecimento, a água quente, as substâncias contidas nesse vegetais (principalmente folhas, não deixando de lembrar das cascas, raízes, flores e sementes), eram extraídas com mais eficiência. Logo, sua ação no organismo humano ficava mais dinamizada e a “cura” acontecia com maior rapidez.

Essa prática foi tão eficaz que os panteístas adotaram em seus rituais a infusão de ervas e o chá elaborado com essa prática era servido aos participantes do encontro, num gesto e ação para purificar quem dele tomasse. Isso também ocorria com elementos sólidos. Uma fruta, uma semente, uma castanha enfim, era a “natureza” e o “divino” agindo para o bem estar físico e espiritual das pessoas nas comunidades primitivas.

A Lei 11.645/08 coloca um precedente na Lei 9394/03 dizendo que é necessário que seja inserido no currículos das escolas, a História da África, dos Africanos e Indígenas. Ora, cabe aqui uma discussão sobre Ética e Moral. A primeira é o estudos dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. Isto é, o que ocorre naturalmente. A segunda, já é um conjunto de regras de condutas consideradas como válidas, que de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, ou pessoa determinada. Isto é, o conjunto de nossas faculdades morais, o brio, a vergonha.

Quando as características éticas não são praticadas normalmente como um ato natural, a sociedade se organiza e através de um conjunto de regras e normas, elabora uma codificação que deverá ser seguida para reparar danos a uma determinada etnia. Entendido esse binômio, passamos a refletir sobre uma prática Panteísta da atualidade.

Atualmente é comum observarmos, normalmente no quintal das casas de nossa cidade um local preparado para o cultivo de ervas denominadas como “farmácia alternativa”, os remédios caseiros. Nela encontramos plantas que apresentam características que combatem vários males, algumas até, segundo o conhecimento popular, afastam “mal olhado”, outras trazem sorte. Portanto é um sistema de proteção elaborado no transcorrer do tempo que trará tranquilidade aos seus cultivadores. Esse ato de cultivar pequenas plantas é possível que o praticante desse ato não consiga entender porque faz. Talvez por uma tradição familiar, ou até mesmo por ser bonito. Mas isso é uma prática Panteísta.

Os negros (preto e pardo da atualidade), indígenas se valeram e ainda hoje ainda utilizam essas práticas para amenizar o sofrimento de seus ente-queridos. A propósito, você que está lendo este texto já ingeriu algum tipo de chá neste ano? Tudo bem, todo o ser humano, em um determinado tempo já praticou esse ato.

Uma prática muito difundida e praticada no século XXI é a presença de “Casas de Chá”, onde as pessoas frequentam com a promessa de desintoxicarem-se e terem uma vida equilibrada e saudável. Nesses ambientes são seguidas algumas regras de com ingerir tais bebidas. Segundo seus frequentadores, o benefício conquistado com essa prática é revigorante, pois reduz o estresse e aumenta o bom humor. Essa ação é uma prática Panteísta reinterpretada.

Bibliografia Consultada:

ÂNGELIS, Joanna. Estudos Espíritas: Reflxões e Doutrinas, Ed. FEB, 1982
(Psicografado por Divaldo Franco).

CHAUÍ, Marilena. Janela da Alma, Espelho do Mundo. IN: Novais ª (Org.) O Olhar. São Paulo. Cia de Letras, 1988.

CIAMPONI, Durval. Alternativas da Humanidade. Ed. FEESP. São Paulo , 2004.

CARNEIRO, Vitor Ribas. ABC dos Espíritos. Curitiba, Federação Espírita do Paraná. 1996

FLAMARION, Nicolas Camile. Deus Na Natureza. Ed. FEB, 1979.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. J. Herculano Pires, Ed. FEESP, ?? São Paulo, 1995.

A seguir vamos apresentar alguns “tipos de cha” mais comuns e utilizados:

Salsaparrilha (Smilax sp): diurética e depurativa, ajuda a eliminar os metais pesados. É encontrada em diversos países entre eles: Jamaica, México e Brasil, no continente americano. Na Europa, Portugal e Espanha.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale): tem ação diurética e melhora o funcionamento do intestino. Norte de Portugal.

Capim-limão (Cymbopogon citratus): facilita a digestão e reduz a retenção de líquidos. Origem, ìndia.

Alecrim (Rosmarinus officinalis): ativa a circulação e combate os radicais livres. Origem costa do Mediterrâneo.

Carqueja (Bacchris trimera Less): tem efeito diurético e diminui os níveis de açúcar no sangue. Portugal.

Chá verde (Camelia sinensis): estimula a digestão e facilita a queima de gordura. China.

Gengibre (Zingiber officinale): dá saciedade e acelera o metabolismo. Ilha de Java, India e China.

Guaçatonga (Casearia sylvestris): ativa a digestão das gorduras e tem ação diurética. Áreas tropicais da América.

Laranja-da-terra (Citrus aurantium): aumenta o ritmo do metabolismo e estimula a digestão. Origem chinesa.

Sete-sangrias (Cuphea balsamona): é diurética e levemente laxativa. Origem Centro Sul Americana.

Cavalinha (Equisetum arvense): é diurética e desintoxicante. Européia.

Hamamélis (Hamamelis virginiana): tem ação antiinflamatória e reduz a retenção de líquido e gordura responsáveis pela celulite. Canadense.

Castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum): melhora a permeabilidade dos vasos e diminui o inchaço. Indiana.


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