ME DESCULPE, MAS EU QUERO CONTRIBUIR...
Contra essas tradições sempre se lutou. A Revolução Francesa, que representou um bem para a Humanidade, não respeitou as tradições da realeza; nós, se tivéssemos mantido nossas tradições monárquicas, hoje não seríamos República.
Cruéis tradições devem ser combatidas com vigor por serem contrárias à humanização do ser humano. Mas devemos recorrer às nossas boas e sadias tradições quando somos invadidos pela mídia globalizada, arte enlatada, notícias manipuladas, ódio racial, pensamento único.
Isto é a Cultura: acabar com as tradições malsãs criando novos caminhos, inventar uma ética. Se, no Brasil, já foi tradição a fome no Norte e Nordeste, Cultura é dar de comer ao faminto. Se é tradição o latifúndio improdutivo, Cultura é permitir que, quem sabe, pode e quer, que o faça produzir. Se foi tradição servil imitar a arte alheia, surgiram os Pontos de Cultura para liberar a nossa criatividade, engenho e arte.
Os Pontos de Cultura vêm nos lembrar que não se pode privatizar a denominação de Artista, pois Artistas somos todos nós, seres humanos: somos os inventores do mundo. Todos nós somos capazes de produzir Arte, - não uns melhor que outros, mas cada um melhor do que si mesmo.
Esta é, em Arte, a única competição que devemos aceitar: eu, comigo. Como escreveu o poeta quinhentista português, Sá de Miranda: “Comigo me desavim, sou posto em todo perigo, não posso viver comigo, nem posso fugir de mim”. Isto é Arte: todos nós conosco nos desavimos e, com o mundo, até mudarmos o mundo que temos, e mudar o que faremos.
Se era tradição nortear nossos passos pelo que fazem os países do Norte, temos agora que usar o neologismo de um amigo meu, temos que “sulear” nossos caminhos, estendendo a mão amiga aos países que estão nesta mesa, e a outros que, nesta mesa, também têm assento e, no nosso coração, lugar.
Reconhecemos a nossa fraternidade com os países da América Latina, como o Equador; africanos, como a África do Sul; asiáticos, como a imensa Índia; e eu, como bom português trasmontano que também sou, de Justes e Vila Real, saúdo a presença querida de Portugal.