LEMBRETE

sábado, 29 de março de 2008

REFLETINDO SOBRE RELIGIÕES VII.

REFLEXÕES ACERCA DE RELIGIÕES,
Escrito em 1899

Se temos uma teoria, precisamos fatos para fundamentá-la. Precisamos de embasamento empírico. Não podemos construir nosso conhecimento através da intuição, de fantasias, de analogias ou inferências. A estrutura precisa de uma fundamentação. Se pretendemos construir, devemos começar pelo alicerce.
Eis uma teoria e quatro fundamentos para ela.
  • O primeiro fundamento é que a matéria (substância), não pode ser destruída, não pode ser aniquilada.
  • O segundo é que a força não pode ser destruída, não pode ser aniquilada.
  • O terceiro é que matéria e força não podem existir separadamente (nunhuma matéria à parte da força e nenhuma força à parte da matéria).
  • O quarto é que aquilo que não pode ser destruído também não pode ser criado (que o indestrutível é incriável).

Se essas quatro preposições são fatos, segue-se necesseriamente que a matéria e a força são eternas, que não podem ser aumentadas ou diminuídas. Segue-se que nada foi ou pode ser criado, que nunca houve ou pode haver um criador. Segue-se que não pode haver qualquer inteligência, qualquer intenção por detrás da matéria e da força.

Não há inteligência sem força. Não há força sem matéria. Consequentemente, não há qualquer possibilidade de ter existido uma inteligência, uma força por detrás da matéria. Logo, o sobre natural não existe e não pode existir. Se essas quatro preposições são fatos, a natureza não tem qualquer mestre. Se a matéria e a força são eternas, segue-se necessariamente que Deus não existe, que nenhum Deus criou ou governa o Universo, que nenhum Deus existe para responder às orações, que nenhum Deus socorre os oprimidos, que nenhum Deus se compadece com o sofrimento dos inocentes, que nenhum Deus se importa com os maus tratos dispensados aos escravos ou com as mães que perderam seus bebês, que nenhum Deus resgata os torturados, que nenhum Deus salva os mártires das chamas. Em outras palavras, isso comprova que o homem nunca recebeu qualquer ajuda do céu, que todos os sacrifícios foram em vão e que todas as preces foram proferidas ao vento, sem ninguém para ouví-las. Nâo devemos fingir, apenas dizer o que pensamos.

Se a matéria e a força são eternas, segue-se que tudo que foi possível já aconteceu, que tudo o que é possível está acontecento e que tudo que será possível acontecerá. No universo não há acaso, não há caprichos, Todos os eventos têm seu antecedente. Aquilo que nunca aconteceu não poderá acontecer. O presente é o produto necessário de todo o passado, a causa necessária de todo o futuro.

Na cadeia infinita de eventos não há, e não pode haver, qualquer elo quebrado, qualquer elo faltando. A forma e o movimento de cada estrela, o clima de todo o mundo, todas as formas de vida animal e vegetal, todos os instintos, a inteligência e a consciência, todas as afirmações e negações, todos os vícios e virtudes, todos os pensamentos e sonhos, todas as esperanças e medos, são necessidades. Nenhuma das incontáveis coisas e relações no Universo poderam ser diferentes.